domingo, 5 de abril de 2009
Nos últimos tempos tenho pensado bastante em Dostoievsky
Nos últimos tempos tenho pensado amiúde em Dostoievsky por causa da personagem que dá o título a uma das suas mais notáveis e famosas obras. Porquê? Por razões privadas. Por acontecimentos recentes que me têm feito meditar acerca de inexplicáveis opções súbitas que quase todo e qualquer ser humano decide tomar em certas ocasiões da sua vida, sem suficiente meditação prévia, mais movido pela erupção de emoções que considera irreprimíveis do que por motivos racionais devidamente ponderados. Há sentimentos ou emoções que se exprimem inopinadamente em certos momentos e são genuínos e puros - embora incongruentes, lesivos de direitos adquiridos e lesivos da tranquilidade e até da saúde psíquica de terceiros - mas nesses momentos há qualquer coisa de transcendente (e eu creio na transcendência) e indefinível que se interpõe. Consequência: tais actos resultam em idiotice... O que dói depois é que o mal está feito e não parece poder ter reparação humana. Sentimentos de amizade pura e sincera são por vezes interpretados pelas pessoas alvo deles de modo inesperado, atribuindo-se-lhes intenções que nunca existiram, o que faz parecer que tudo fica irremediável. Para que remediável fosse, seria necessária da sua parte uma postura flexível e de abertura ao diálogo aberto e franco, e ao esclarecimento mútuo. Postura que frequentemente não existe. Estas referências superficiais - como não poderiam deixar de o ser e não deixarão de o ser - fazem lembrar um pouco alguns dos argumentos de certas tragédias gregas ... mas felizmente nada têm a ver com elas. Infantilidades à parte, os factos em si reduzem-se a comuns episódios humanos, como tantos que acontecem por esse mundo e por esses tempos afora. Claro que é porém sempre triste perder a amizade, que se sentia simples, verdadeira e pura, de um ser humano que, frequentemente, até já era considerado quase como fraterno. Não é bem o mundo que desaba..., não é bem um sismo como o de ontem em Itália. É, suponho, apenas um abalo de terra de escala reduzida... Em casos deste quilate espera-se que tudo acabará por se esbater e parecer bem longínquo dentro de algum tempo. Restarão as memórias, apesar de saturadas de penoso significado. Com toda a sinceridade, num caso assim, a quem tenha sido parte activa, apenas resta desejar toda a felicidade a quem se tenha sentido lesado por episódio de tal natureza. Pouco mais sobrará do que o silêncio, se a parte lesada assim o preferir. Sobrará ao menos a fraternidade?
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