quarta-feira, 15 de abril de 2009

The Mirror has Two Faces - Sinopse



Este filme de Barbra Streisand (1996) realizado por ela própria, é uma curiosa história de um amor que o personagem masculino do casal (de nome Gregory Larkin) pretende platónico, definindo-o à partida como tal. Esta personagem, representada pelo actor Jeff Bridges, professor de matemática na Universidade de Columbia, propõe casamento a Rose Morgan, professora de literatura inglesa, também na Universidade de Columbia, representada por Barbra Streisand, uma professora cheia de vitalidade e discurso atractivo, que prende a atenção dos seus alunos (ao contrário do que acontece nas aulas de Matemática de Gregory... que um dia resolveu ir assistir a uma aula dela e fica impressionado e fascinado). Contudo, na sua proposta, Gregory põe ingenuamente como condição que não haja sexo durante o casamento. Diz ele: "Porque razão terá forçosamente de haver sexo durante um casamento, quando a vida tem tantos outros importantes motivos de interessse que podem unir dois seres humanos, tanta matéria interessante de conversa a preenchê-la, ou que a pode preencher? Rose, a princípio incrédula, acaba por admitir a ideia porque sente uma grande simpatia por Gregory. O casamento realiza-se, mas a situação mantém-se. A mãe de Rose (desempenhada por Lauren Bacall) vai perguntando à filha: "Então? Ele ainda não te tocou?" "Não, mas estamos a viver uma relação interessante, mãe. Tenha calma". A história desenro-la-se e, a certa altura, Rose decide que não está realmente a viver uma vida conjugal normal. Depois de uma tentativa falhada de relação sexual com Gregory, resolve sair de casa e regressar à sua casa materna, enquanto Gregory dormia. Ela - que se vestia sempre desajeitada e modestamente - acaba por resolver aprimorar-se no vestuário: vestidos mais modernos e mais justos, saias mais curtas, decotes um tanto provocantes, cabeleira mais vistosa. Além disso, pintura facial mais arrojada também. Quando Gregory acorda e descobre que Rose não está em casa, entra em pânico. Seguem-se várias cenas com tentativas infrutíferas deste para falar com Rose ao telefone, que esta recusa com dificuldade. Um dia consegue encontrar-se com ela e fica abismado com a mulher tão transformada que vê diante de si. Preferia a mulher por quem sentira antes tanto afecto. Abreviando: Gregory entra em depressão e desespero e - numa noite em que, mais uma vez, não consegue falar ao telefone com Rose - resolve ir directamente a casa dela. O porteiro não o deixa entrar no prédio e então Gregory põe-se a gritar por Rose a meio da rua, apesar do adiantado da hora. É o escândalo. A vizinhança assoma às janelas. Rose resolve ceder e vem ter com Gregory à rua. Aí compreende definitivamente que o seu amor por Gregory supera todas as contingências e limitações. Finalmente exprime-o abraçando-o e beijando-o. Um dos vizinhos é um tenor que se põe a cantar - recorrendo a potentes décibeis - uma área de uma ópera de Puccini que tem a ver com as paixões e o amor. O filme conclui com os dois protagonistas principais reconciliados e decididos a viver aquele estranho contrato matrimonial...


Links: http://www.imdb.com/title/tt0117057/
http://en.wikipedia.org/wiki/The_Mirror_Has_Two_Faces
e
http://en.wikipedia.org/wiki/The_Mirror_Has_Two_Faces


O DVD não se encontra já à venda em Portugal. Consegui obtê-lo há 2 semanas por gentileza do filho de uma colega - que comprou em Bristol a versão falada em inglês/americano - Bristol onde ensina na respectiva Universidade (e obviamente por gentileza da sua mãe). Pode importar-se, por exemplo, da Holanda, mas dobrado em holandês. Conforme se diz no texto de um dos links, este argumento tem sido acusado por alguns de ser uma espécie de autobiografia egocêntrica de Barbra Streisand. Teve um grande êxito inicialmente, mas as receitas de bilheteira acabaram por não cobrir os custos de produção, do que resultou um fracasso financeiro porque o público americano deixou de aderir a ele a partir de certa altura. No entanto, não deixa de ser um filme com duas interpretações extraordinárias e um argumento muito invulgar.



domingo, 5 de abril de 2009

Nos últimos tempos tenho pensado bastante em Dostoievsky

Nos últimos tempos tenho pensado amiúde em Dostoievsky por causa da personagem que dá o título a uma das suas mais notáveis e famosas obras. Porquê? Por razões privadas. Por acontecimentos recentes que me têm feito meditar acerca de inexplicáveis opções súbitas que quase todo e qualquer ser humano decide tomar em certas ocasiões da sua vida, sem suficiente meditação prévia, mais movido pela erupção de emoções que considera irreprimíveis do que por motivos racionais devidamente ponderados. Há sentimentos ou emoções que se exprimem inopinadamente em certos momentos e são genuínos e puros - embora incongruentes, lesivos de direitos adquiridos e lesivos da tranquilidade e até da saúde psíquica de terceiros - mas nesses momentos há qualquer coisa de transcendente (e eu creio na transcendência) e indefinível que se interpõe. Consequência: tais actos resultam em idiotice... O que dói depois é que o mal está feito e não parece poder ter reparação humana. Sentimentos de amizade pura e sincera são por vezes interpretados pelas pessoas alvo deles de modo inesperado, atribuindo-se-lhes intenções que nunca existiram, o que faz parecer que tudo fica irremediável. Para que remediável fosse, seria necessária da sua parte uma postura flexível e de abertura ao diálogo aberto e franco, e ao esclarecimento mútuo. Postura que frequentemente não existe. Estas referências superficiais - como não poderiam deixar de o ser e não deixarão de o ser - fazem lembrar um pouco alguns dos argumentos de certas tragédias gregas ... mas felizmente nada têm a ver com elas. Infantilidades à parte, os factos em si reduzem-se a comuns episódios humanos, como tantos que acontecem por esse mundo e por esses tempos afora. Claro que é porém sempre triste perder a amizade, que se sentia simples, verdadeira e pura, de um ser humano que, frequentemente, até já era considerado quase como fraterno. Não é bem o mundo que desaba..., não é bem um sismo como o de ontem em Itália. É, suponho, apenas um abalo de terra de escala reduzida... Em casos deste quilate espera-se que tudo acabará por se esbater e parecer bem longínquo dentro de algum tempo. Restarão as memórias, apesar de saturadas de penoso significado. Com toda a sinceridade, num caso assim, a quem tenha sido parte activa, apenas resta desejar toda a felicidade a quem se tenha sentido lesado por episódio de tal natureza. Pouco mais sobrará do que o silêncio, se a parte lesada assim o preferir. Sobrará ao menos a fraternidade?